Arábia Saudita nuclear, o Retorno
Enquanto as atenções mundiais estão voltadas para o programa nuclear do Irã, submetido a uma intensa pressão política e a ações de guerra irregular não declarada, seu arquiinimigo saudita volta a proclamar aos quatro ventos a intenção de se “nuclearizar”, tanto em usos civis como militares. Como já havia ocorrido em abril último, quando os sauditas manifestaram publicamente pela primeira vez uma possível opção nuclear, o porta-voz de Riad foi novamente o príncipe Turki al-Faisal, que, entre outros postos de alto nível, já foi chefe do serviço de inteligência e embaixador em Washington.
Falando em um seminário sobre segurança, em Riad, Sua Alteza deixou claro que seu governo não pretende deixar a primazia nuclear regional a Israel e ao Irã. “Os nossos esforços e os do mundo fracassaram em convencer Israel a abandonar as suas armas de destruição em massa, bem como o Irã… Portanto, é nosso dever para com a nossa nação e o nosso povo considerar todas as opções possíveis, incluindo a posse dessas armas”, afirmou (AFP, 5/12/2011).
Em junho último, o diretor da agência nuclear saudita, Abdul Ghani Malibari, anunciou que o país tem planos para construir 16 reatores nucleares nas próximas duas décadas, para a geração de eletricidade e a dessalinização da água do mar. O programa teria um valor estimado de 80 bilhões de dólares e será baseado na cooperação internacional.
Quanto à posse das armas nucleares, o veterano editor itinerante da UPI, Arnaud de Borchgrave, considera que não seria inconcebível que os sauditas possam obtê-las do Paquistão, como já foi levantado em uma visita do rei Abdala àquele país, em 2006. Para ele, “se a opção nuclear saudita se materializar, a Turquia não ficaria e não poderia se manter com um status não-nuclear (UPI, 7/12/2011)”.
Embora alguns analistas considerem que a “opção nuclear” saudita representaria mais uma forma de pressionar os EUA para investir contra o programa nuclear do Irã do que uma intenção real, ela não pode ser desconsiderada. Se ela prosperar, ou parecer prosperar, poderá desmantelar definitivamente o arcabouço vigente da não-proliferação nuclear, pois será quase impossível impedir que outros países que já detêm tecnologia nuclear abandonem o caduco Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e se lancem à produção dos seus próprios artefatos nucleares. As consequências, no contexto da já suficientemente conflituosa transformação da ordem de poder mundial em curso, poderão ser simplesmente catastróficas.
Movimento de Solidariedade Íbero-americana
Créditos ➞ este post é matéria apresentada no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. III, No 30, de 08 de dezembro de 2011.
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