Terça-Feira , 07 de Junho de 2011 - 14:31
A empresa norte-americana Coriel Cell Repositories, sediada em Camden Nova Jersey, mantém
à venda em seu site amostras de sangue de índios brasileiros. Por módicos US$ 85 (R$ 134,13)
uma pessoa de qualquer lugar do planeta pode comprar, sem sair de casa, amostras de linhagens
de células e de DNA do sangue das etnias Karitiana, Suruí e Ianomâmi. Se tiver disposta a
gastar mais, a pessoa pode também encomendar amostras de sangue de índios do Peru, Equador,
México, Venezuela e de diversos outros países.
A oferta do sangue ocorre há mais de uma década. No ano 2005 o caso veio à tona. À época, a
A oferta do sangue ocorre há mais de uma década. No ano 2005 o caso veio à tona. À época, a
CPI da Biopirataria – que estava a pleno vapor – pediu explicações à Fundação Nacional do
Índio (Funai). Num passe de mágica, a Funai anunciou ter acionado a Polícia Federal (PF) e
o Itamaraty para solicitar ao governo dos EUA a suspensão da oferta de sangue no site da Coriel.
Mércio Pereira da Silva, então presidente da Funai, anunciou no dia 13 de abril de 2005, ao
depor da CPI, que todas as medidas haviam sido adotadas no sentido de coibir o comércio
do sangue.
Seis anos se passaram da promessa da Funai. Atenta aos assuntos de interesse nacional, a
Agência Amazônia foi conferir se, de fato, a Coriel Repositories havia suspendido a oferta
de sangue dos índios brasileiros. Um novo susto: como há quatro anos, o sangue dos índios
do Brasil e de outros países ainda é oferecido a quem se dispuser pagar US$ 85 (R$ 134,13)
por amostra de célula e de DNA encomendados. Para adquirir as amostras basta o comprador
clicar aqui e seguir todos os passos indicados pela Coriel.
Assunto é capa do NY Times
No Brasil os jornais e as autoridades silenciaram sobre o assunto. O mesmo não aconteceu no
exterior. Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times destaca o assunto em primeira
página, na edição do dia 20 de junho de 2007. Assinada por Larrry Rohter, correspondente
do jornal no Brasil, destaca a polêmica envolvendo tribos indígenas da Amazônia e institutos
de pesquisas estrangeiros que vendem sangue coletado dos nativos nos anos 70 e 90.
Líderes das etnias Karitiana, Suruí e Ianomâmi, escutados na reportagem, dizem não ter
Líderes das etnias Karitiana, Suruí e Ianomâmi, escutados na reportagem, dizem não ter
recebido um só centavo pela venda de seu material genético, vendido a US$ 85 cada
amostra por uma
firma americana chamada Coriell Cell Repositories, uma entidade sem fins lucrativos baseada
firma americana chamada Coriell Cell Repositories, uma entidade sem fins lucrativos baseada
em Camden, Nova Jersey.
Segundo a reportagem, os índios estariam revoltados e que “na época que as amostras foram
Segundo a reportagem, os índios estariam revoltados e que “na época que as amostras foram
coletadas, tinham pouco ou nenhum entendimento do mundo exterior, muito menos de como
funcionava a medicina Ocidental e a economia capitalista moderna”.
A reportagem mostra que o material, supostamente obtido sem o consentimento dos índios,
A reportagem mostra que o material, supostamente obtido sem o consentimento dos índios,
foi coletado sem que as autoridades brasileiras soubessem que procedimentos científicos
estavam sendo realizados nas tribos protegidos por lei federal.
(Venda de sangue indígena no exterior ‘revolta tribos na Amazônia’).
O assunto saiu na primeira página e em duas páginas internas da seção Américas do jornal
O assunto saiu na primeira página e em duas páginas internas da seção Américas do jornal
mais influente do mundo. Outros veículos internacionais, entre os quais a BBC Brasil também
deram destaque ao assunto. De acordo com a agencia de notícia inglesa,
a venda de sangue de índios revoltou as tribos brasileiras. A BBC faz, na verdade,
uma pequena tradução da reportagem do The New York Times. Apesar da repercussão
lá fora, pouco se fez para apurar o caso.
Até agora a medida de maior impacto partiu do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
Até agora a medida de maior impacto partiu do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
Ao analisar os autos do processo 2002.41.00.004037-0, o TRF, determinou o retorno imediato
à Justiça Federal em Rondônia. A ação foi impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF)
naquele Estado e pede R$ 500 mil de indenização de pesquisadores pela coleta ilegal de sangue
de índios da etnia Karitiana. A continuidade do processo foi decidida por unanimidade pela 5ª
Turma do TRF.
A ação do MPF cobra dos pesquisadores indenização por danos morais porque eles teriam
A ação do MPF cobra dos pesquisadores indenização por danos morais porque eles teriam
feito a coleta de sangue sem autorização expressa dos indígenas e da Fundação Nacional
do Índio (Funai). Também pede o ressarcimento por possíveis prejuízos causados aos
indígenas pela suposta destinação que deram ao material colhido (o sangue). Atualmente,
o caso retornou ao TRF. No dia 1º último a Procuradoria Regional da República pediu vista
do processo.
Sem qualquer burocracia
A oferta do sangue dos índios brasileiros é escancarada. Ao ingressar no site da Coriel Cell
Sem qualquer burocracia
A oferta do sangue dos índios brasileiros é escancarada. Ao ingressar no site da Coriel Cell
Repositories o internauta, se conhecer um pouco do idioma inglês, não enfrentará muita
burocracia para encomendas as células e do DNA de sua preferência. Nas páginas internas
da Coriel, a pessoa escolhe as amostras, preenche um formulário e justifica seu pedido.
Um dos requisitos para adquirir o sangue é se passar por pesquisador da área médica.
Em seguida, o cliente autoriza a compra (no cartão de crédito ou débito) e, por fim, envia
Em seguida, o cliente autoriza a compra (no cartão de crédito ou débito) e, por fim, envia
seus dados por fax ou e-mail para a empresa nos Estados Unidos. Supõe-se que o
endereço seja para o envio das amostras, já que a Coriel promete em seu site entregar
os componentes de sangue dos índios brasileiros e de demais países em qualquer lugar
do planeta.
Compra feita resta ao adquirente do sangue apenas esperar a encomenda. A Coriel
Compra feita resta ao adquirente do sangue apenas esperar a encomenda. A Coriel
Repositories garante a entrega do produto. A empresa, no entanto, faz uma ressalva:
só “distribui”, ou melhor, vende por R$ 85, as culturas de pilhas e as amostras do DNA
“à profissionais qualificadas que são associadas com as organizações de pesquisas médicas,
educacionais, ou industriais”.
Empresa possui 1 milhão de amostras
A Coriel Repositories anuncia que possui quase 1 milhão de recipientes com sangue em
Empresa possui 1 milhão de amostras
A Coriel Repositories anuncia que possui quase 1 milhão de recipientes com sangue em
seus bancos. De 1964 para cá, a empresa já comercializou 120 mil amostras de células
e outras 100 mil de DNA de sangue. Esse volume de material foi espalhado a cientistas
de quase 60 países. O laboratório exige do comprador apenas uma descrição de como
o produto vai ser usado e um termo de garantia com detalhes dos termos e das condições
de venda. Feito isso, as linhagens celulares e as amostras de DNA Karitiana são enviadas
a quem as comprou.
As primeiras denúncias de coleta e venda de amostras de sangue dos índios de Rondônia
surgiram em 1996. Um ano depois, a Câmara criou uma comissão externa para investigar
esse e outros casos de biopirataria na Amazônia. Na época, constatou-se que era possível
adquirir amostras de sangue pela internet de crianças, adolescentes, mulheres, homens e
velhos das duas tribos brasileiras.
Dez anos depois, o sangue continua à venda no site da Coriell Cell. A Polícia Federal
Dez anos depois, o sangue continua à venda no site da Coriell Cell. A Polícia Federal
abriu inquérito para apurar o caso. Até agora, no então, não prendeu nenhum dos
suspeitos de envolvimento no caso.
Confira aqui os tipos de sangue e células colocadas à venda pela empresa norte-americana.
No http://www.rondoniaovivo.com
Confira aqui os tipos de sangue e células colocadas à venda pela empresa norte-americana.
No http://www.rondoniaovivo.com
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