“
EMBARGO [contra o IRÃ]:
A VOLTA DO CHICOTE NO LOMBO DE QUEM BATEU” Por
Pepe Escobar, no “
Asia Times Online”
“THE IRANIAN OIL EMBARGO BLOWBACK”“Se aquela patética coleção de poodles europeus –
que o analista Chris Floyd chama deliciosamente de 'Europuppies' – conhecesse alguma coisa da cultura persa, saberia que a volta do chicote da guerra econômica, que declarara sob a forma de embargo ao petróleo do Irã, não tardaria e viria dura como rock-pauleira.
Melhor dizendo: como rock-pauleira-pauleira-mesmo. O Majlis (Parlamento do Irã) decidirá amanhã, domingo, em sessão aberta, se cancela completa e absolutamente todas as exportações de petróleo iraniano para todos os países europeus que aceitarem o embargo –
segundo Emad Hosseini, relator da Comissão de Energia do Majlis [1]. E com aviso, em tom apocalíptico, via a agência de notícias FARS, cortesia do deputado Nasser Soudani: “
A Europa arderá no fogo dos poços iranianos.”
[2]Soudani manifesta o pensamento de todo o establishment em Teerã, quando diz que “
a estrutura das refinarias europeias só é compatível com o petróleo iraniano” – portanto, os europeus não têm alternativa; o embargo “
fará subir o preço do petróleo, os europeus terão de comprar e serão obrigados a pagar mais”. Quer dizer: a Europa “
terá de comprar petróleo iraniano indiretamente, dos intermediários”.
Nos termos do pacote de sanções da União Europeia, todos os contratos continuam vigentes até 1º de julho; e ficam proibidos quaisquer novos contratos. Então... imaginem que a nova legislação “preventiva” seja aprovada no Irã, nos próximos dias. Países do Club Med europeu, como Espanha e, principalmente, Itália e Grécia, estarão encurralados nas cordas, sem tempo para buscar alguma possível alternativa para o cru iraniano, extremamente leve, de altíssima qualidade.
A Arábia Saudita –
e digam o que disserem os ‘especialistas’ em petróleo da imprensa corporativa ocidental – não tem capacidade reserva para suprir a demanda extra. E, sobretudo, a absoluta prioridade da Casa de Saud é vender petróleo ao preço mais alto possível (
porque os sauditas precisam de muito dinheiro para subornar – além de reprimir – a própria população e fazê-la esquecer aquelas ideias estúpidas de primaveras árabes).
Então, é isso. As economias europeias já quebradas podem ser obrigadas a continuar comprando petróleo iraniano, não do Irã, diretamente, mas dos vencedores selecionados: os intermediários-abutres.
Não surpreende que os derrotados nessas táticas de Guerra Fria, anacronicamente requentadas, em tempos de mercado aberto global, sejam os próprios europeus. A Grécia –
que já está à beira do abismo – compra petróleo do Irã com grandes descontos no preço. Há alta probabilidade de que o embargo lance o governo grego diretamente em situação de calote –
e, daí em diante, há alta probabilidade de um efeito cascata catastrófico na eurozona(Irlanda, Portugal, Itália, Espanha e por aí vai).
O mundo carece de um Heródoto digital que explique como esses poodles europeus, que dizem representar a “civilização”, conseguiram, num só golpe, fazer sofrer, simultaneamente, a Grécia –
onde nasceu a civilização ocidental – e a Pérsia, uma das civilizações mais sofisticadas que o mundo jamais conheceu. E que espantosa reencenação histórica da tragédia, como farsa! É como se gregos e persas estivessem lado a lado, nas Termópilas, assistindo ao massacre dos exércitos da Organização do Tratado do Atlântico Norte, OTAN.
ENTRE NA DANÇA DA EURÁSIA [3] Agora, comparem aquele cenário e a ação que se vê por toda a Eurásia. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, disse que “
Sanções unilaterais não servirão para nada”. O ministro das Relações Exteriores da China, em Pequim, com muito tato, mas irrepreensivelmente direto ao ponto, disse que “
Pressionar cegamente e impor sanções ao Irã não são abordagens construtivas”.
[4] O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, disse que “
Temos muito boas relações com o Irã, e estamos empenhando muitos esforços para reabrir as conversações entre o Irã e os mediadores do [grupo] “5+1” [chamado “Irã 6”: os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha]. A Turquia continuará a buscar solução pacífica para a questão”.
A Índia, dos BRICS –
como Rússia e China – também desaprovou as sanções. A Índia continuará a comprar petróleo do Irã, pagando em rúpias ou em ouro. Coreia do Sul e Japão, sem dúvida, arrancarão isenções do governo de Barack Obama.
Por toda a Eurásia, o comércio afasta-se rapidamente do dólar norte-americano. E, muito importante: a “
Zona Asiática de Exclusão do Dólar” implica também que a Ásia, aos poucos, já se está afastando dos bancos ocidentais.
O movimento pode ser liderado pela China –
mas, em todos os casos, é movimento irreversivelmente transnacional. Como sempre, siga o dinheiro. China e Brasil, dois países BRICS, começaram a afastar-se do dólar norte-americano nas transações comerciais em 2007. Rússia e China, também BRICS, seguiram o mesmo caminho em 2010. Japão e China –
os dois gigantes asiáticos-, fizeram exatamente o mesmo, mês passado.
Semana passada, Arábia Saudita e China assinaram contrato para a construção de uma refinaria gigante de petróleo no Mar Vermelho. E a Índia, mais ou menos secretamente, está decidindo pagar em ouro, pelo petróleo que compre do Irã –
com o que deixará de lado também o atual intermediário, um banco turco.
A Ásia quer um novo sistema internacional –
e está trabalhando nessa direção.
Consequências inevitáveis no longo prazo: o dólar norte-americano –
e, claro, o petrodólar – encaminha-se lentamente para a irrelevância. “
Grande demais para falir” acabará por ser, não imperativo categórico, mas epitáfio.”
NOTAS DOS TRADUTORES:[1] 27/1/2012, Press TV, Teerã, “
Oil war with Iran will cripple EU”
[2] 25/1/2012, Mehr News, Teerã, “
Iranian parliament mulling plan to cut oil exports to Europe”
[3] Orig. "
Hit the eurasian groove". "Hit the groove" é expressão que equivale, em português, a “entre no ritmo”, “acerte o ritmo”, “caia na festa” etc. Vê-se e ouve-se uma gravação de “Hit the groove”, com o grupo Echobeat
[4] 26/1/2012, Xinhuanet, Pequim, “
China says sanctions on Iran not constructive”
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no “
Asia Times Online”, sob o título “
The Iranian oil embargo blowback”. Transcrito no blog “redecastorphoto” traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” (
http://redecastorphoto.blogspot.com/2012/01/pepe-escobar-embargo-volta-do-chicote.html) [
título e imagem do Google adicionados por este blog ‘democracia&política’] [
Postagem por sugestão do leitor Probus].
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