América Latina se aproveita da
‘década perdida’ dos EUA
William Márquez
Da BBC Mundo, em Washington
No afã de responder aos ataques do 11 de Setembro, os Estados Unidos
colocaram o Oriente Médio e a Ásia Central no topo de suas prioridades
políticas. Nos últimos dez anos, essas regiões têm ocupado suas atenções,
a que os historiadores se referem como "a década perdida".
Além de outras mudanças na conjuntura internacional, a América Latina
também aproveitou essa distração do gigante americano para abrir as
asas e buscar novos rumos políticos, diplomáticos e sobretudo econômicos.
O resultado foi a eleição de governos latino-americanos menos palatáveis
para Washington, a relação desses com outras nações um dia
consideradas "exóticas" e a prioridade do intercâmbio comercial com a
China.
Especialistas continuam discutindo as causas e os efeitos prolongados
deste giro, mas o certo é que a região reafirmou sua identidade e
independência. Muitos países revitalizaram suas economias e saíram
relativamente ilesos da crise financeira de 2008, que continua
afetando os EUA e a Europa.
Acredito que não foi um cochilo de Tio Sam. Ele estava tão
acostumado com as atitudes de submissão, por parte dos
governantes do Brasil desde a década de 1930, que achou
que tudo continuaria como nada estivesse acontecendo!
Na verdade, nós os brasileiros comuns, votantes, descobrimos
a dicotomia entre o discurso e a prática do Big Brother do
Norte ajudado por nossos militares primeiro e políticos depois.
Começou com a descoberta dos conchavos para que se efetuasse
o golpe de 1964 e os consequentes problemas que o mesmo trouxe:
estigmatização dos contrários ao regime, como terroristas e foi aí
em todos os níveis da administração pública como sustentáculo
necessário para validação do regime e consolidação de grandes
grupos de mídia para servir de apoio ao regime, num
relacionamento espúrio que perdura até hoje entre os políticos remanescentes e ela.
No campo econômico, Tio Sam orquestrou o que chamam de
globalização e ordenou, primeiro, o corte de qualquer subsídio
para depois abrir a economia para os outros países. Só que isso
tinha uma só mão e o mundo que comandou essa globalização,
primeiro não se abriu a ela e segundo, tratou de criar empecilhos
alfandegários aos nossos produtos protegendo os deles.
O 11 de setembro em si não foi o causador do afastamento da
América Latina e sim o que veio depois. No discurso The Big Brother
do Norte é o paladino em defesa da democracia, dos direitos
humanos e de sua soberania. Na prática, só a soberania dele é
que prevalece, só a sua democracia de ocupação é correta e
usar outros países para prender e torturar pretensos guerrilheiros
é defender os direitos humanos. Falácias serviram de pretexto
para invasões, mortes e mais mortes de civis acima do que serviu
de pretexto( crimes contra humanidade) e nesse caso, necessárias
para estancar os genocídios(sic). Na realidade, pura e simplesmente
busca de recursos naturais que não dispõe. Sem falar no endividamento
enorme para enriquecer poucos de seu país.
Precursores
"O 11 de Setembro marca mais ou menos o momento em que a
América Latina nasceu como verdadeira entidade independente",
disse à BBC Mundo Larry Birns, diretor do Conselho sobre Assuntos
Hemisféricos, COHA, de Washington.
Os precursores foram os governos de Luiz Inácio Lula da Silva,
no Brasil, e Hugo Chávez, na Venezuela. O primeiro protagonizou
uma intensa campanha para um assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU. O segundo destacou-se por seu desafiante
populismo radical.
Seguiram o mesmo caminho, guardadas as devidas proporções,
governos como o do casal Kirchner, na Argentina, de Rafael Correa,
no Equador, e o de Evo Morales, na Bolívia, entre outros na América
do Sul. O mesmo ocorreu com Daniel Ortega, na Nicarágua, e Mauricio
Funes, em El Salvador.
Larry Birns reconhece que essa tendência da "esquerda"
latino-americana poderia estar em gestação antes, mas consequências
do 11 de Setembro aceleraram o processo.
A consolidação dessa mudança é vista em organizações multilaterais
como a Unasul, que exclui os Estados Unidos e Canadá.
"A região está emergindo como um importante centro da política externa",
diz o diretor do COHA. "A América Latina não é mais apenas um
consumidor de eventos, mas também um gerador deles."
A nossa mídia, ainda calcada nas bases pseudo liberais( pseudo
por que não admite o contraditório então não é liberal) do seu
fortalecimento, menosprezou o que convencionou de "aero Lula".
Pois bem, somente com ele a via econômica de volta se concretizou
com negociações envolvendo os mais diversos países, abrindo
mercados e expandindo nossa economia. Então não foi só a
perseguição de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU que
o destacou internacionalmente. E isso é de menos, quando se
sabe que o Big Brother do Norte, o atropela quantas vezes quiser.
Ritmo da China
Onde mais se nota a perda de hegemonia dos EUA sobre a região é na
economia. A região estabeleceu fortes laços comerciais com outras
potências emergentes e blocos.
A falta de atenção de Washington para com o seu "quintal" tradicional
custou aos EUA o privilégio automático de ser o primeiro parceiro comercial
da América Latina. As razões para tanto são variadas.
Para começar, os pactos comerciais que resultaram nos anos 1990 no
Nafta (entre EUA, México e Canadá) e no Cafta (para a América Central)
foram apenas parcialmente bem sucedidos. Ao fim dessa década, e ao longo
dos anos 2000, a região começou a diversificar seus parceiros comerciais,
voltando-se para a Europa.
Em seguida, a iniciativa de criar uma zona de livre comércio do Alasca à
Patagônia, a Alca, nunca se materializou, enquanto que vários pactos
bilaterais entre os EUA e em outros países foram enfraquecidos ou não
foram implementados.
A mudança mais significativa, no entanto, foi a emergência do Sudeste
Asiático como polo de crescimento.
"A entrada da China na economia global é sem dúvida o evento mais
importante neste período econômico que estamos vivendo", diz Augusto
de la Torre, economista-chefe para América Latina e Caribe do Banco
Mundial.
Num primeiro momento, a emergência da China produziu efeitos
adversos sobre as economias do México e da América Central, que
perderam espaço no mercado dos EUA. Acreditou-se inicialmente
que esta seria a tendência de toda a região.
A fase de desenvolvimento em que se encontra a China, no entanto,
pelo fato de ser uma nação de renda per capita baixa e renda média
em ascensão, faz do país um consumidor voraz de matérias-primas.
De la Torre ressalta que países que têm sua cadeia produtiva ligada
às necessidades da China são os grandes beneficiários desse processo.
Brasil, Peru, Chile, Argentina, Venezuela, Colômbia, Equador, Paraguai
e Uruguai são alguns dos países puxados pelo crescimento do gigante
chinês.
O Panamá, por causa do canal, também se beneficiou com o grande
fluxo de comércio internacional.
Riqueza de conhecimento
Para manter a bonança no longo prazo, o mais importante é transformar
a riqueza derivada das matérias-primas em "riqueza do conhecimento",
pontua De la Torre.
Seria seguir o exemplo do Japão após a a Segunda Guerra Mundial e agora
da China, que se beneficiaram da transferência de tecnologia dos países com
quem tiveram forte comércio.
"Quando o iPod é montado na China, há um grande número de engenheiros
chineses estudando como ele é feito e como poderiam ser melhorados", diz
o economista.
Essa foi uma relação que a América Latina não aproveitou quando os laços
econômicos com os Estados Unidos estavam no auge.
Esse foi o verdadeiro descuido do Tio Sam! Foi com tanta sede
ao pote que deixou seu bico! A mão de obra extremamente
qualificada e absurdamente barata por falta de opções, reviveu
a escravatura que eles tinham perdido no século retrasado!
Foi vítima de uma estratégia comercial que eles mesmos criaram:
Quando se estabelecer, vender mais barato para desbancar os
concorrentes eliminando-os. Só falta (e pouco) para darem o golpe
final: aumentar os preços sem concorrência nenhuma, pois os
concorrentes desapareceram!
Há um ditado que diz que se o boi se desse conta de sua força, nunca
seria subjugado! Pois Napoleão, há muito tempo, disse que no
momento que a China se desse conta do seu tamanho o mundo iria
tremer! Preparem-se para o terremoto!
Nova relação
Onde fica a relação com os EUA?
Os analistas reconhecem que houve um racha, mas o prognóstico geral é
que as ligações continuem fortes, tanto política quanto economicamente,
mas com uma perspectiva diferente.
"A América Latina quer expandir as suas opções", disse Geoff Thale,
diretor do Washington Office on Latin America, WOLA, uma ONG que
promove a relação “equilibrada” entre os EUA e seus vizinhos.
"Muitos países têm aprendido as lições da sua dependência política e
econômica com os EUA e querem diversificar as suas relações", disse
Thale.
No entanto, o analista destaca que as relações continuam a ser
fundamentais e mutuamente benéficas.
"Em 2003, nos piores momentos entre Venezuela e Estados Unidos,
em nenhum momento houve corte do fornecimento de petróleo, porque
ambos dependem dele", lembra.
Thale ressalta que, apesar da retórica, todos os governos da América
Latina, tanto os de direita quanto os de esquerda, querem um bom
relacionamento com o grande vizinho do norte.
O diretor da WOLA diz que Washington precisa dar mais atenção
política à região para fortalecer seus laços.
A mudança está dada e alguns suspeitam que é irreversível.
Larry Birns, diretor do COHA acredita que os laços permanecem, mas
já não mais tão elásticos como antes.
"Uma coisa é certa: o status quo, aquele que existia antes de 2001,
esse não existe mais", disse.
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Os parágrafos em destaque, são de munha autoria e podem ser utilizados
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